Nº. 655 – Encontros de músicos – 13 mai 2002, p. 4

//Nº. 655 – Encontros de músicos – 13 mai 2002, p. 4

Nº. 655 – Encontros de músicos – 13 mai 2002, p. 4

Música – Nº. 655

Encontros de músicos

Rolando de Nassáu

 

Depois da criação, em outubro de 1982, da Associação dos Músicos Batistas do Brasil (AMBB), proliferaram os encontros (congressos, conferências, seminários, simpósios, painéis, etc.) de músicos, alguns apelidados “de louvor e adoração”, com o objetivo de discutirtemas ou divulgar técnicas para desenvolvimento do ministério da música em nossas igrejas.

Observamos que nos programas desses encontros há partes que beneficiam a preservação da música sacra, dedicada ao culto, mas, lamentavelmente, há outras que prejudicam, por tratarem de música para entretenimento.

No programa de todo e qualquer encontro de músicos batistas, na parte teórica, primordialmente, deveria constar o estudo da teologia da adoração, o exame da estrutura administrativa de um departamento de música e a apreciação do uso de hinos e cânticos apropriados ao culto. Cremos serem estes os três assuntos que mais interessam aos ministros e diretores de música de nossas igrejas. Os que passaram pelo curso de música dos seminários e faculdades teológicas, talvez mais exigidos pelas matérias de natureza técnica, não consagraram suficiente tempo ao estudo das teorias teológicas, administrativas e litúrgicas. Até mesmo os que se formaram há mais tempo têm dado demonstração de como estão desorientados nas matérias teóricas, quando sucumbem aos modismos divulgados em certos encontros.

Isto aflige também os pastores, que são tentados a caracterizar o culto como se fosse um evento artístico, com elementos sonoros, visuais, cênicos, plásticos e coreográficos.

Naquele programa, não deveriam faltar oficinas de teoria musical e harmonia, tradicional e funcional. Evidentemente, em dois ou três dias, só seria possível ao palestrante traçar um esboço bem esquematizado das idéias contemporâneas sobre teoria musical, harmonia e dissonância.

Seria muito importante, incluir no programa palestras sobre interpretação e apreciação musical (há muito músico que toca bem, mas não sabe escolher o que tocar), e constâncias da música brasileira (há muito compositor e arranjador que usa ritmos, estilos e instrumentos populares, sem saber escoimá-los de sua profanidade e mundanidade), para que os hinos e cânticos usados em nossas igrejas tenham a desejada contemporaneidade, sem perder a indispensável espiritualidade.

As aulas teóricas seriam mais substanciosas se contemplassem a composição, o arranjo, a instrumentação e a orquestração; o problema dos encontros de músicos é ter alguma substância a oferecer, em tão pouco tempo, aos que pretendem criar letras e melodias de novos hinos e cânticos.

A Fonoaudiologia ajudaria os músicos de igreja a entender as perturbações auditivas que eles podem provocar durante os cultos.

A Sonoplastia serviria como preventivo dos ruídos e efeitos acústicos, tão do agrado dos músicos que, não satisfeitos com o canto coral, querem expandir a massa sonora que ilustra os seus espetáculos.

A Informatização é para os músicos requintados que pretendem desenvolver arranjos e partituras.

Os métodos “Orff” (musicalização infantil), “Kodály” (alfabetização musical) e “Suzuki” (aceleração do aprendizado na execução de instrumentos de cordas) têm sido apresentados, cada vez mais frequentemente, nos encontros de músicos batistas.

Na parte prática desses encontros, até onde o tempo permitir, no sentido de aprimorar a técnica, deveria ser dada prioridade à execução de instrumentos apropriados ao culto (violinos, violas, violoncelos, contrabaixos, harpas, flautas, oboés, clarinetas, fagotes, trompas, trompetes, trombones, tímpanos, órgãos e pianos), individualmente e em formação orquestral, inclusive para acompanhamento da música vocal e coral, e ao uso de cifras.

Em seguida, por sua importância para o desenvolvimento da música coral nas igrejas, seriam expostas as técnicas de ensaio e de regência (muitos ministros e diretores de música carecem de orientação), feitos exercícios vocais e de leitura de partituras.

Temos observado, pelos programas de encontros de músicos batistas, que neles existem partes maléficas à preservação da verdadeira música sacra.

Entre os males, assinalamos o incentivo à criação de “equipes de louvor”, de oportunidades para expressão corporal, dança e coreografia, do uso de estilos (jazz, blues, rock, reggae, rap, funk, street dance, samba, pagode, etc.) e de instrumentos musicais populares (violões, guitarras, violas caipiras, cavaquinhos, bandolins, banjos, saxofones, xilofones, vibrafones, acordeões, castanholas, tantãs, gongos, bateria, tambores, atabaques, tamborins, pandeiros), além dos mais sofisticados, os sinos (“chimes”) e os teclados sintetizadores. Os saxofones, que ocupam lugar proeminente nas orquestras e nos pequenos conjuntos de jazz, estão sendo admitidos nos encontros de músicos e nos cultos de certas igrejas, porque os pianos já executam hinos em arranjos jazzísticos (ver: artigo no.613, “Mark Hayes no Brasil”, OJB, 15-21 maio 2000). Em certos encontros, os músicos são tentados a ceder ao “sax appeal” …

Que benefício poderá trazer à reverência e à espiritualidade, a presença no culto divino de dançarinas, de roqueiros e de pagodeiros?, ou de uma “big band”, teleguiada da cabine-de-som por um “big brother”? Na década de 70, quando não estava tão enferma quanto nos dias atuais, era tratada por Bill Ichter nas clínicas de música; agora, nos encontros deveria haver clínicas para os músicos acometidos de coreografite, roquite e pagodite …

Já começaram a aparecer encontros nos quais são apresentadas técnicas de artes cênicas e de artes visuais; estranhamos, porque são extra-musicais, mas compreendemos, porque eles estão empolgados pelo espetáculo.

 

Somente os próprios músicos é que poderão escolher os encontros de que participarão, mas ainda passará algum tempo até que eles possam influir sobre a sua programação.

 

(Publicado em “O Jornal Batista”, 13 mai 2002, p. 4)