Nº. 690 – A vocação do ministro de música – 03 abr 2005, p. 4

//Nº. 690 – A vocação do ministro de música – 03 abr 2005, p. 4

Nº. 690 – A vocação do ministro de música – 03 abr 2005, p. 4

 

Doc.JB-690

A vocação do ministro de música

Rolando de Nassáu

Entre as nossas preocupações com a música nas igrejas está a preocupação com o ministério de música. Em nosso livro “Introdução à Música Sacra” edição do autor, esgotada, Rio de Janeiro, 1957), escrevemos que entre as medidas indispensáveis à melhoria da nossa música estavam a criação de escolas de música sacra, anexas aos seminários teológicos, e de cargos remunerados de diretor de música, nas igrejas locais (pp.71-73). Os leitores habituais desta coluna talvez se lembrem de algo que escrevemos a respeito do ministério de música, em oito artigos.

Saibam os leitores eventuais que no primeiro desses artigos (ver: OJB, 16 maio 65) sugerimos: 1) o Plano Cooperativo da CBB deveria destinar uma verba especial para sustento de professores de música sacra e aumento do número de estudantes de música em nossos seminários, numa base percentual; os cursos foram criados em 1963, posteriormente, portanto, às medidas sugeridas em 1957 em nosso livro; 2) as igrejas concederiam bolsas-de- estudos a jovens talentosos com o compromisso de, terminado o curso no seminário, trabalhar para elas durante certo tempo; 3) as igrejas, as convenções estaduais e crentes individualmente contribuiriam para um Fundo Especial, a ser administrado pelo Departamento de Música da então Junta de Escolas Dominicais e Mocidade da CBB, que custearia o Programa Nacional de Educação Musical. Concluímos esse artigo assim: “Depois de 8 anos, parece estar chegando a oportunidade e a possibilidade de algumas igrejas batistas no Brasil terem seus ministros de música !”.

Evidentemente, para serem criados (escolas e cargos de ministro) é indispensável que haja vocacionados. Há o argumento de que o vocacionado não investe tempo e dinheiro para trabalhar no ministério de música sem remuneração. Esse tal, certamente não é um vocacionado! Será que o candidato está disposto a investir tempo no ministério, se houver remuneração? Se não está, então está à procura de “sombra e água fresca”, é um aproveitador. Será que o candidato está disposto a gastar seu dinheiro para pagar as despesas do curso, sabendo que mais tarde será remunerado? Talvez esteja fazendo um negócio. Cabe ao seminário e à faculdade teológica incutir no estudante a idéia de que o ministério de música é uma vocação, paralela à do ministério da Palavra. Se o seminarista encara o ministério da música sacra como profissão, cedo perceberá que poderá ganhar mais dinheiro na música profana.

O ministro encara o ministério como uma vocação ou uma profissão?

É um problema grave um ministro achar que foi vocacionado para o ministério da música, mas, depois de algum tempo de luta com o pastor ou a igreja, desistir; se ele é tecnicamente capaz, buscará trabalho no setor da música profana.

O ministro com mentalidade mercantilista percebe as naturais mudanças nos ministérios de música das igrejas como oportunidades oferecidas pelo “mercado”, e não como aberturas para prestar serviço à música sacra, seja numa igreja grande ou pequena, abastada ou de parcos recursos financeiros.

A respeito do ministério da música, falta visão (ou compreensão ?) da parte de certas igrejas e de certos de seus membros, aí incluídos os candidatos e os alunos dos cursos de música. Há igrejas que tiveram ministros de música e, depois de algum tempo, julgaram que tinham desperdiçado dinheiro e trabalho. Na verdade, não tinham visão nem compreensão do ministério. Essas igrejas, pelo menos os seus líderes, deveriam ter demonstrado interesse no preparo dos vocacionados e no desempenho dos ministros.

Ensinar música e treinar músicos são duas atividades diferentes. Os vocacionados são encaminhados aos cursos de música sacra para aprenderem os elementos da música. Eles devem saber, desde o início do curso, que vão estudar música sacra, que é um gênero diferente da música profana. É possível que, nestes tempos em que o crente é constantemente envolvido por sons mundanos, o vocacionado tente usar os elementos da música à maneira dos músicos profanos. O mais grave ocorre quando no seminário ou faculdade teológica são tolerados ritmos, estilos e instrumentos musicais profanos; em alguns cursos, são incentivados! Os bacharéis em música sacra vão para as igrejas, onde são testados pelo pastor e pela congregação, que, nem sempre, conhecem a verdadeira música sacra. O treinamento do ministro consiste em procurar exercer o ministério pela forma que ele imagina, ou como o pastor da igreja quer. Começa, então, um duelo entre concepções e conhecimentos a respeito do que seja música apropriada ao culto. Nesse estágio, a vocação do ministro é posta à prova. O treinamento dos membros da igreja na área musical é um teste porque o ministro encontrará pessoas com algum ou nenhum conhecimento de teoria musical e história da música sacra.

A atitude do pastor em relação ao vocacionado será muito importante, desde o seu encaminhamento ao curso de música sacra até a sua contratação como ministro de música. O vocacionado terá oportunidade de verificar se realmente o que quer é a preservação da música sacra.

(Publicado em “O Jornal Batista”, 03 abr 2005, p. 4).