Nº. 650 – 50 anos – 14 jan 2002, p. 4

//Nº. 650 – 50 anos – 14 jan 2002, p. 4

Nº. 650 – 50 anos – 14 jan 2002, p. 4

Música – Nº. 650

50 anos

Rolando de Nassáu

“It is time to explain myself” (Walt Whitman)

 

Em 13 de dezembro de 2001, completamos 50 anos de crítica musical em “O Jornal Batista”. Cinqüenta anos mantendo uma coluna num mesmo jornal é um recorde para qualquer colunista, em qualquer matéria.

Nesses 50 anos, foram publicados 630 artigos, focalizando audições, recitais, concertos, transmissões radiofônicas e televisivas, gravações em áudio e vídeo, pulicações permanentes e periódicas, espetáculos, obras, formas, estilos, instrumentos e instituições musicais, compositores, hinógrafos e hinólogos, hinologia, organização e repertório da música-de-igreja, e personalidades da música religiosa e profana. Fomos testemunhas oculares e auditivas de eventos de natureza musical, dentro e fora do ambiente evangélico.

“O Jornal Batista” foi o primeiro periódico evangélico a ter uma seção permanente de crítica musical; este fato repercutiu inusitadamente no livro de Henriqueta Rosa Fernandes Braga (“Música Sacra Evangélica no Brasil”, Rio de Janeiro: Kosmos, 1961, pp.371-372) e na “Grande Enciclopédia Delta-Larousse” (Rio de Janeiro: Delta, 1972 e 1979, p. 4.703). Talvez ela faça a única citação de um colunista batista.

Com 15 anos de experiência no “métier”, lamentamos que outras pessoas, mais capacitadas, não se dispunham à difícil tarefa da crítica musical (ver: “O Jornal Batista”, 01 jan 67). Mas depois deduzimos que as pessoas capacitadas ensinam a fazer música, mas cabe aos críticos ensinar aos leitores a compreendê-la.

Fizemos mais dois balanços (ver: OJB, 27 dez 92, 10 jan 93 e 08 dez 96), sempre com a preocupação de avaliar a intenção e repercussão de nossa crítica.

Nosso primeiro artigo comentou um concerto do Coral “Excelsior”; essa instituição musical evangélica promete voltar à atividade (poderia chamar-se doravante “Fênix” …), sob a competente direção artística de Delcy Bernardes Gonçalves.

Esta quarta prestação-de-contas dá ensejo a que lembremos outras organizações corais ainda em plena atividade: o Coral “Eclésia” (PIB do Rio de Janeiro), o Coral “Dorivil de Souza” (IB de Madureira), o Coro “Canuto Régis” (Igreja Presbiteriana do Rio), o Coro da Catedral Evangélica de São Paulo, o Coral Evangélico de São Paulo, o Coro da IB do Méier, os coros “Memorial” e “Mensageiros da Paz” (Igreja Memorial Batista) e os coros da IB da Capunga e do Seminário do Norte (no Recife, PE). Lamentavelmente, não mais existem as associações corais evangélicas, que, nas décadas de 50 e 60, divulgaram a boa música sacra.

Nas priscas e ingênuas décadas seguintes, foram publicados os livros de Edmond Keith, Henriqueta Rosa Fernandes Braga, Paul Mc Common, Bill Ichter, João Wilson Faustini, Hugh Mc Elrath, Ruy Wanderley, Gamaliel Perruci e Donald Hustad, que deram boa orientação à música-de-igreja, mas, infelizmente, não tem sido observada pelos dirigentes musicais.

Entre as partituras de alto nível, citamos “São João Batista” (Léo Schneider), “As últimas palavras de Cristo” (Dubois), “Messias” (Haendel) e “Elias” (Mendelssohn). Desde a década de 90, as falsas “cantatas”, os espetáculos musicados (“musical shows”) , que encobrem sua pobreza musical com artifícios de iluminação, mímica, instrumentação e coreografia, são traduzidas nos EUA e publicadas no Brasil. Em decorrência do desprestígio da literatura coral erudita, há um processo de sucatagem dos coros, que são substituídos por “equipes de louvor”, nos cultos dominicais, e conjuntos vocais instrumentais, nos concertos anuais, quando aos instrumentos tradicionais são ajuntados, para fazer barulho, teclados, guitarras, baixos elétricos, baterias e outros instrumentos de percussão.

Naquelas décadas, apesar das falhas técnicas (a exceção é o recente CD “Hinos da nossa história”, por nós considerado “a gravação do século”; ver: OJB, 12-18 mar 2001, p.7), foram gravados bons discos evangélicos, antes da avalanche dos CDs atualmente produzidos em virtude do mercantilismo musical.

Nostalgia? Não!, simplesmente constatação de que, no final do século 20, a música, vocal, coral e instrumental, “ao vivo” ou gravada, impressa ou informatizada, sofreu um processo de banalização, massificação e globalização, inclusive em nossas igrejas.

Nesses 50 anos (1951-2001), a última década foi a em que mais se manifestou a decadência artística, a despeito do desenvolvimento tecnológico dos recursos de execução, amplificação, gravação e reprodução sonora.

 

Entramos no terceiro milênio com a sombria perspectiva de, suplantadas as baterias e os atabaques, serem ouvidas as sete trombetas do Apocalipse (caps.8, 9 e 10).

 

(Publicado em “O Jornal Batista”, 14 jan 2002, p. 4).

 

2018-02-21T14:40:51+00:00 By |Publicações|