Nº. 628 – O culto batista sopesado em Niterói – 17 set 2001, p. 9

//Nº. 628 – O culto batista sopesado em Niterói – 17 set 2001, p. 9

Nº. 628 – O culto batista sopesado em Niterói – 17 set 2001, p. 9

Música – Nº. 628

O Culto Batista Sopesado em Niterói

Rolando de Nassáu

 

Não se aperfeiçoa o estilo musical profano que pretende expressar um texto religioso. Um estilo ruim só pode expressar imperfeitamente, mesmo que o texto seja bom.

Sugerido em Berlim (Alemanha) pela Aliança Batista Mundial (World Baptist Alliance) e realizado em Niterói (RJ) pela União Batista Latino-Americana (UBLA), de 15 a 18 de março de 2000, o Primeiro Congresso Latino-Americano Batista de Adoração, teve como conferencistas Thomas Mackey (Argentina), Jorge Aguirre e Samuel Escobar (Peru), Roberto Alves e Fausto Vasconcelos (Brasil), que falaram para batistas procedentes de 18 países. Para falar sobre teologia da adoração, também poderiam ter sido convidados os pastores João Falcão Sobrinho e José Almeida Guimarães.

As palestras, em sua maioria, foram proferidas na língua espanhola (castelhana); parece que não era importante o que os participantes entendiam (racionalmente), mas o que sentiam (emocionalmente).

Os debates previstos no programa, limitados a meia hora, praticamente não aconteceram.

Para cantar, aos congressistas foram oferecidos oito hinos, sendo um do século 18, quatro do século 19 e três do século 20, dos quais somente um escrito e composto por músico brasileiro; além desses hinos, 18 cânticos.

Ainda bem que uma “dança litúrgica” foi preparada por um grupo coreográfico representando igrejas da Convenção Batista Nacional (renovada). O mal perpetrado foi trazer a coreografia para dentro da Convenção Batista Brasileira (tradicional).

À noite de 15 de março, foi exibido o video-tape “Batistas em adoração”, com aspectos da conferência de Berlim. Os congressistas não tomaram conhecimento dos ensaios escritos por M.J.Quicke e Milburn Price para a Comissão de Culto da ABM reunida em Hong Kong.

Reparem que, depois do Congresso de Niterói, aumentou a pressão favorável à introdução da coreografia no culto batista brasileiro.

Foram exibidas amostras de culto e apresentados estilos que poderão modelar o culto das igrejas batistas na América Latina; numa técnica de “merchandising”, os estilos contemporâneo e renovado levavam vantagem sobre o culto tradicional. Como está muito diluída a identidade denominacional, não será surpreendente encontrar igrejas “tradicionais” praticando o modelo renovado e executando música pentecostalizante, mesmo fora do movimento pentecostal.

Estavam previstas 25 oficinas, mas várias foram canceladas porque os palestrantes não compareceram.

Assistindo à apresentação dos estilos modeladores de culto, é provável que tenha mudado a opinião de muita gente a respeito das formas, ritmos e instrumentos musicais apropriados ao culto divino. Se isto aconteceu, o Congresso teve êxito; ele pode ter tido exatamente a função de facilitar a mudança de atitude no culto.

Mas a nossa opinião não mudou: embora sejamos feitos de barro, devemos servir a música de louvor a Deus em salvas de prata! (Salmo 12:6). Se a forma, o ritmo e o instrumento não forem purificados, expurgados de conotações profanas, a música não é digna de Deus. Infelizmente, muitos dirigentes de culto não entendem nem percebem a diferença entre os estilos sacro e profano (vejam Ezequiel 42:14-20).

Para as tardes de 16 e 17 de março, foi imaginada uma “musikfest”; não entendemos porque usar uma palavra alemã para designar um festival de música dentro de um congresso latino-americano …

Refletindo sobre o que viram e ouviram, os congressistas de Niterói, em sua declaração final, reconheceram a existência da atual diversidade nas formas de expressão da fé e da adoração nas igrejas batistas da América Latina e manifestaram sua preocupação com a transformação, com muita freqüência, do culto em “show”; a clericalizacão do culto; a informalidade excessiva; a improvisação, a desarmonia e a desarticulação entre as partes do culto; a hipertrofia dos “períodos de louvor” nos cultos, em detrimento da ministração da Palavra de Deus; e a focalização do culto na pessoa humana, no seu prazer e divertimento.

Lamentavelmente, após o Congresso não houve repercussão neste semanário denominacional de suas teses e conclusões; ninguém (nenhum ministro de música) se deu ao trabalho de comentar o Congresso de Niterói.

No seio das igrejas a influência foi prejudicial, pois o que temos observado, desde março de 2000, é a proliferação dos grupos coreográficos e a difusão da música de índole profana (até mesmo em igrejas consideradas conservadoras em matéria de reverência), em virtude da irresponsabilidade ou do despreparo de seus ministros de música.

 

Quem sabe se um outro congresso de adoração, limitado às igrejas filiadas à Convenção Batista Brasileira, e com maior participação de ministros, diretores e professores de música (tendo em vista sua excepcional oportunidade na orientação dessas igrejas), teria a vantagem de debater, com seriedade e em profundidade, o culto batista?!

 

(Publicado em “O Jornal Batista”, 17 set 2001, p. 9).

 

2018-02-21T14:45:57+00:00 By |Recitais e concertos|