Música – Nº. 706
Rolando de Nassáu
(Dedicado ao leitor Jonas Oliveira Santana, do Rio de Janeiro, RJ)
Realizou-se em Brasília, num sábado à noite, em 20 de maio, a quarta edição do Encontro de Quartetos Masculinos, promovido pelo conjunto “Shalom”.
Nenhum dos quartetos que se apresentaram em 2005 (JB, 07 ago 05) veio a Brasília para este evento, do qual participaram “Charisma” (Brasília, DF), “Edrei” (Itumbiara, GO), “Sonância” e “Vida Nova” (São Paulo, SP) e “Templo” (Londrina, PR). Uma pequena orquestra, integrada por 15 instrumentistas, coadvou o órgão e o piano no acompanhamento de algumas partituras corais. Um coro, formado por 90 coristas, pertencentes a cinco igrejas evangélicas, cantou algumas peças pouco conhecidas. O programa informava que o coro executaria um “prelúdio cantado” e um “poslúdio cantado”; evidente equívoco, pois “prelúdio” é forma de música instrumental e “poslúdio” é peça musical para órgão.
Em todas as edições do Encontro, os quartetos têm usado música ornamentada; os arranjos ornamentados preterem as obras originais, não somente devido à sua forma de utilização, mas também por causa de cacoetes de execução; o canto se torna um objeto cultural; às vezes é expressão de uma cultura específica, quando os quartetos se revelam meros imitadores de intérpretes de fama internacional (“A Cappella”, “The Oak Ridge Boys”, “Bill Gaither Trio”, “Cathedral”, Roger Bennett, “Arautos do Rei”). Nessa música, dirigida não ao culto mas ao entretenimento, é forçoso admitir o “play-back” e a bateria. Mas não podemos deixar de manifestar nosso desapreço, porque o “play-back” não respeita as três condições do canto e da música no culto (integridade, proporção e claridade) e a bateria não contribui para a dignidade do louvor, mas facilita a divulgação do “rock”.
O coro cantou o majestoso hino “Louvor ao eterno Deus”; parcialmente satisfatório o desempenho, pois o entendimento do canto dependia de um letreiro eletrônico. “Vontade soberana”, título dado à imponente música do organista Alfred Legge para a letra de Adelaide Addison Pollard, singela, cadenciada e solene (HCC-472), teria melhor acompanhamento ao órgão. “Grande amor, sublime, eterno” teve uma execução suficiente.
O conjunto vocal (12 integrantes) “Shalom” executou, a cappella, “Quanto mais O Sirvo”, com melhor dicção. Na canção católica “Más allá del sol”, atribuída a Emiliano Ponce, cantada no original espanhol, com piano e bateria, temos uma letra alienante e uma melodia vulgar. Na canção “Em nome de Jesus”, de Sandi Patti, inspirada no hino “In the name of the Lord”, TBH-174, o “Shalom” teve sua melhor execução.
O quarteto “Charisma” cantou, a cappella, “Eu sou feliz”, numa execução com entrosamento das vozes, tendo menor rendimento na canção “Deu-lhe água”; ouviu-se um grito na canção “Tu tens de estar pronto”; este episódio de mau gosto ofendeu os tímpanos dos ouvintes mais sensíveis.
O “Edrei” cantou “Graças dou por minha vida” (HCC-419), arranjado pelos “Oak Ridge Boys”, tentando imitar esse conjunto de “gospel-rock”, que não se classifica entre os quartetos “gospel” e os de MCC. Na canção “Existe um rio” surgiu inopinadamente um falsete; na canção “Cristo salva”, divulgada pelo “Cathedral”, percebemos a má dicção de alguns solistas.
O “Sonância” escolheu “Tocou-me”, divulgada pela “Gaither Vocal Band”, usando uma gesticulação exagerada e dando uma interpretação inusitada; no início da década de 80, Gaither era um conjunto “gospel”, mas depois aderiu à Música Cristã Contemporânea. “Swing low, sweet chariot”, famosa “negro spiritual song” sofreu inúmeros arranjos, inclusive de Elvis Presley; o quarteto paulistano usou o de Hooper; mas os arranjos não contêm o fervor espiritual característico da melodia original. “Achei Jesus”, adaptação do hino “Satisfied” (TBH-539), de Clara Williams, recebeu interpretação aceitável.
“Vida Nova” foi o quarteto das surpresas: antes de cantar “Tenho sede”, de Bev Lowry, foi surpreendido por uma falha técnica do “play-back”; depois, surpreendeu o auditório com uma galopante “Temos vitória”, canção no estilo “country gospel” do pianista Roger Bennett; finalmente, cantou arranjo do hino “Chuvas de graça” (“Harpa Cristã”, no. 53) sem poupar o público de um susto de mau gosto. Apesar das surpresas desagradáveis, uma apresentação em geral descolorida; surpreendentemente, recebeu aplausos.
“Templo” foi o mais equilibrado quarteto do 4º. Encontro. A cappella, cantou “Há na glória um bom país” e “Jamais se diz adeus”; com “play-back”, “Deus nos tem chamado”, num arranjo do “Arautos do Rei”, que é uma boa imitação das qualidades vocais do “King’s Herald”, conjunto adventista que se apresentou num congresso da Aliança Batista Mundial.
Os quartetos participantes possuem boas vozes; em alguns, ficou evidente a falta de “mistura” das vozes, prejudicada pela amplificação sonora; em outros, uma pesquisa quantitativa revelaria as diferenças vocais entre os seus membros.
Houve algum progresso na organização do Encontro e foi saudável a renovação do quadro de participantes; estes precisam ser autênticos.
É inegável a importância dessa iniciativa do “Shalom”, ímpar no cenário musical batista brasileiro.
(Publicado em “O Jornal Batista”, 06 ago 2006, p. 4).