S/Nº. – Ambientes de culto (4) – R. T. Hollanda – 10 fev 2008, p. 14

//S/Nº. – Ambientes de culto (4) – R. T. Hollanda – 10 fev 2008, p. 14

S/Nº. – Ambientes de culto (4) – R. T. Hollanda – 10 fev 2008, p. 14

 

Ambientes de Cultos (IV)

Roberto Torres Hollanda

Initium sapientiae timor Domini” (Psalmus 111. 10)

Profanação do ambiente

Com reverência, o homem evita agir como se fosse Deus; é uma virtude esquecida nos templos em nossos dias. Alguns templos são respeitados depois que se tornam ruínas históricas.

Lamentavelmente, o ambiente do culto, seja ritual-formal ou emocional-informal, pode ser profanado, pela falta de reverência e temor a Deus.

Profanação é o ato ou efeito de profanar; é trazer para dentro do templo palavras, atitudes, gestos, pensamentos e conceitos mundanos; é tratar com irreverência a Bíblia e o hinário; é fazer mau uso de objetos e equipamentos localilizados no templo; é dar aplicação profana às atividades no templo; é tratar com vulgaridade ou displicência as oportunidades de participação no culto; é trajar-se inconvenientemente no salão de culto.

Em nosso livro “Culto – Celebração e Devoção” (Rio de Janeiro: JUERP, 2007) fazemos várias advertências contra a profanação do ambiente.

O que ouvimos, lemos ou vemos durante o culto poderá definir se o ambiente é sagrado ou profano.

As partes faladas (comunicações, saudações e orações) são ocasiões em que os participantes do culto devem ter o máximo cuidado com suas palavras.

As comunicações devem ser objetivas, pois falar em demasia é consumir tempo precioso que deve ser dedicado à adoração particular e ao louvor coletivo. As saudações devem ter como modelo as consignadas nas epístolas apostólicas; as dirigidas aos visitantes devem ser cortezes, evitando demonstrações ruídosas e exaltadas, para não prejudicar a solenidade, nas igrejas formais, e a reverência, nas informais (op. cit., pp. 162 e 163). As orações públicas não devem ser discursos bem formulados, feitos para serem ouvidos pelos homens, e repetitivos, porque não é pelo muito falar que seremos ouvidos por Deus (op. cit., pp. 90-92).

O pregador deve abster-se de gracejos, anedotas, alusão a programas profanos de rádio e televisão, a competições esportivas, ou referência a celebridades do mundo artístico e político.

O culto não é momento para distração e entretenimento. Desde a convocação ao templo, o crente deve comportar-se bem no culto, observando a disciplina, a reverência e a cooperação (op. cit., pp. 70-71 e 73-74).

Nas outras partes musicadas (op. cit., pp.70-72) é bem maior a possibilidade de ocorrerem atos profanos; é oportuno ressaltar que o culto é do interesse da igreja, não de um grupo de artistas.

O maior antídoto contra as manifestações de profanidade é a leitura da Palavra de Deus (op. cit., pp.70 e 137-140). Na Bíblia aprendemos que prestamos culto a Deus quando reconhecemos que somos ignorantes e quando somos gratos pelo que Ele tem feito em nossas vidas.

O poeta John Milton (1608-1674) escreveu que a gratidão permitenos “encontrar epifanias todos os dias, aqueles momentos transcedentes de respeito que mudam para sempre a maneira como experimentamos a vida e o mundo”.

Para o cientista Robert Millikan (1868-1953), “a plenitude do conhecimento sempre significa algum entendimento da profundidade de nossa ignorância; isto sempre nos conduz à humildade e reverência”.

Até o início deste século XXI, nas igrejas tradicionais ou contemporâneas o cultuante tinha apenas o que ler e o que ouvir. Atualmente, ele tem, no ambiente ritual-formal ou no ambiente emocional-informal, o que ver: entraram no templo a dança coreografada e a encenação teatral; esta, em algumas igrejas, pode transformar-se em espetáculo circense.

Parece que, em algumas igrejas, o objetivo principal do “culto” (esta palavra e sua significação vem sendo banalizada) é entreter a platéia.

Nunca o mundo esteve tão religioso, e as igrejas tão mundanas; muitas não fazem distinção entre culto e “show”; quando assim procedem, elas usam o “fermento de Herodes” (Mar. 8. 15); entendemos esse dito de Jesus como referência a uma das fontes de corrupção doutrinária. Deus reprova o ambiente profanado: “Adorai ao Senhor vestidos de trajes santos” (Sal. 96. 9ª); “faça-se tudo decentemente e com ordem” (I Cor. 14. 40).

A Bíblia ensina que ao Filho de Deus devemos reverência e temor (Heb. 12. 28), mas, em nossos dias, o próprio Deus não é mais temido e reverenciado, inclusive por pessoas que professam a fé cristã. Elas acham que Deus não se importa como O adoram; elas decidem como querem adorá-Lo. Na verdade, para o crente o culto não é opcional; é o cumprimento de um mandamento divino.

A Palavra e a Presença de Deus não são mais desejadas no templo, que é procurado por certos crentes em busca de canto, música, teatro e dança.

Se o culto é substituído pelo entretenimento, é dispensável a reverência. Por isso, a reverência não é atitude importante e necessária durante o culto em certas igrejas.

Estejamos alertas contra a profanação do ambiente do culto em nossas igrejas.

 

(Publicado em “O Jornal Batista”, 10 fev 2008, p. 14).