Nº. 703 – Hermes Coelho interpreta Stravinsky – 07 mai 2006, p. 4

//Nº. 703 – Hermes Coelho interpreta Stravinsky – 07 mai 2006, p. 4

Nº. 703 – Hermes Coelho interpreta Stravinsky – 07 mai 2006, p. 4

 

Doc.JB-703

Hermes Coelho Interpreta Stravinsky

Rolando de Nassáu

(Dedicado ao leitor Wilson Salles, do Rio de Janeiro, RJ)

Em 1982 escrevemos sobre a “Sinfonia dos Salmos”, de Igor Stravinsky (1882-1971), que seria executada, em 10 de julho, no Teatro Municipal (Rio de Janeiro), pela Orquestra Sinfônica Brasileira e a Associação de Canto Coral, sob a regência de Victor Tevah (“O Jornal Batista”, 22 ago 82, p.2).

Símbolo da modernidade, Stravinsky fez a arte sacra retomar o seu lugar no panorama da música moderna. Afastado da terra natal, seu espírito se voltou cada vez mais para os assuntos religiosos e para os interesses eternos. Essencialmente religioso, compôs balés e óperas (“O pássaro de fogo”, 1910, “Petruchka”, 1911, “A sagração da Primavera”, 1913, “O rouxinol”, 1914, “A história do soldado”, 1918, “Pulcinella”, 1920, “A raposa”, 1922, “As núpcias”, 1923, “Rei Édipo”, 1927, “Apollon musagète” , 1928) antes de abordar um tema litúrgico: “Sinfonia dos Salmos”, 1930. Mestre da música para encenação, Stravinsky depois de 1930 procurou a música para meditação religiosa (“Missa”, 1948, “Cântico sacro”, 1955, “Lamentações”, 1958, “Um sermão, uma narrativa e uma prece”, 1961, “A pomba descendo”, 1962, “Réquiem”, 1966).

Uma de suas mais belas criações, a “Sinfonia dos Salmos” foi a primeira obra importante em que Stravinsky deu eloqüente expressão aos seus profundos sentimentos religiosos. Essa obra foi composta com o propósito de promover “uma comunhão com o nosso próximo e o Supremo Ser”. Esta “sinfonia” é menos uma sinfonia do que uma cantata. Ao escolher na “Vulgata” três dos salmos, referia-se à relação do homem com Deus: “Exaudi orationem meam, Domine” (Ouve a minha oração, Senhor), “Expectans expectavi Dominum” (Com paciência esperei no Senhor) e “Laudate Dominum” (Louvai ao Senhor).

Na primeira parte (Salmo 39:12), apesar da simplicidade, há uma expressão de ebulição religiosa. Na segunda (Salmo 40:1), tem-se simbolismo musical do mais alto nível. Na terceira (Salmo 150:1), a sublimação das emoções do compositor.

O tom da salmodia é por vezes influenciado pelo cantochão. O estilo da “sinfonia” tende para sonoridades solenes, mas, estruturalmente, a obra está longe da forma sinfônica.

Em 23 de fevereiro, com alegria e certo “orgulho denominacional”, lemos, no portal da UNICAMP na Internet, a notícia da apresentação da dissertação acadêmica de Hermes Coelho, um dos tecnicamente mais bem dotados músicos batistas no Brasil, sobre a “Sinfonia dos Salmos”.

O compositor Edmundo Villani Côrtes (UNESP), membro da comissão julgadora, ficou impressionado com as sugestões de Hermes Coelho para execução da obra de Stravinsky, que ajudam a corrigir certas falhas cometidas na partitura original. Na opinião de Villani Côrtes, Hermes Coelho desenvolveu “uma das pesquisas mais abrangentes sobre a obra de Stravinsky”.

Em sua dissertação, Hermes Coelho reflete sobre textos bíblicos e analisa a partitura (forma, orquestração, instrumentação, escrita vocal, harmonia e contraponto).

O maestro Hermes Coelho é compositor e clarinetista. Também toca outros instrumentos (piano, violoncelo, saxofones, flautas). Tem mestrado em música (especialização em regência pela Universidade de Campinas, SP). Participou de oficinas para regentes de coros, ministradas por Erik Westberg (1995, 1996 e 1997), na Suécia; de cursos de regência coral, com Paul Oakley e Alberto Grau (1998), Eph Ely, Dennis Jewett e Joseph Prats (1999), Bob Chilcott e Janet Galván (2001), Gunta Malevic e Rodney Eichenberg (2002); de seminário, com Hans Peter Schurz (2002); e de encontros de regentes de orquestra, com Jamil Maluf (2002) e Osvaldo Ferreira (2004). Idealizou e organizou os festivais de Música Sacra e de Música Popular Brasileira, em Campinas (SP). Foi professor no curso de música da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, na Faculdade de Artes “Alcântara Machado” e no Seminário “Música e Adoração” da Sociedade Evangélica de Música Sacra (SOEMUS). Foi palestrante na FTBSP sobre o tema “A Música Sacra no século XX” (1999) e na Primeira Semana de Música Sacra da Igreja Metodista Central de Taubaté (SP). Participou do 16º. Congresso dos Músicos Batistas Fluminenses (Macaé, RJ, 2000). Ministrou cursos básicos de regência na Igreja Batista “El Shaddai” (2001) e na Escola de Música de Sorocaba (2003).

Atualmente, é regente titular da Orquestra “Ars Musicalis”, da Orquestra de Câmara “Metrocamp”, dos coros do Clube “Alto dos Pinheiros” e da empresa “Lucent Technologies”, e do “Coral Exsultate”.

Hermes Coelho compôs “Tu és a Luz” (1998) e “Oração de Natal” (1999). Foi premiado com a Medalha “Carlos Gomes” (2000 e 2003) da Cidade de Campinas (SP). Em seu repertório figuram obras de grandes compositores. Regeu em 20 de dezembro de 2005, no mosteiro de São Bento, em São Paulo (SP), a Orquestra Sinfônica de Americana (SP) e o “Canto Coral Exsultate”, na execução do “Oratório de Natal”, de J.S. Bach (http://www.abordo.com.br/nassau/agenda.htm).

Os músicos e a Denominação estão de parabéns com esse testemunho artístico de um compositor batista no meio acadêmico brasileiro!

(Publicado em “O Jornal Batista”, 07 mai 2006, p. 4).

 

2018-02-21T14:35:00+00:00 By |Personalidades|