No. 780 – “JSB, o Mestre da Música” – 03 mar 13

//No. 780 – “JSB, o Mestre da Música” – 03 mar 13

No. 780 – “JSB, o Mestre da Música” – 03 mar 13

“J. S. Bach, o Mestre da Música” (DVD)

(Dedicado ao leitor Moisés Ribeiro, de Brasília, DF)

“Bach é a síntese do passado, a realidade do seu tempo e a profecia do futuro” (Glenn Gould)

Para comemorar, em 1985, o terceiro centenário do nascimento de Johann Sebastian Bach (1685-1750), “JSB, o Mestre da Música”, como filme seriado  foi inicialmente exibido na televisão da antiga República Democrática Alemã (RDA –  Alemanha Oriental), produzido em cooperação com a televisão húngara. Com dois  discos, agora é apresentado no formato DVD.

Por isso, escrevemos que “de 1949 a 1990, a música de Bach recebeu  decidido apoio das autoridades e do povo na preservação do seu patrimônio cultural”  (OJB, 05 ago 12). Devido ao preconceito ideológico, imposto pela Guerra Fria, este  filme chegou ao Brasil com 26 anos de atraso. O único traço da ideologia dominante  na época, no leste da Alemanha, é mostrar Bach como um trabalhador, sempre à  mercê do patrão, em luta constante com os nobres e os políticos.

Os produtores e diretores cinematográficos do Ocidente não tiveram  interesse na vida prosaica de Bach; a exceção, “Crônica de Anna Magdalena Bach”  (filme de longa metragem, produzido em 1968 na Itália pelos cineastas franceses  Jean-Marie Straub e Daniele Huillet), além de ser baseado numa obra apócrifa, ela-  borada por Esther Meynell (OJB, 26 mar 89), é um filme materialista e fisiológico;  na tese de Straub e Huillet, a música de Bach é composta de acordo com o espaço onde será ouvida, e será executada graças a um severo treinamento dos dedos; isto contradiz o ideal de Bach: “Dem höchsten Gott allein zu Ehren, dem nächsten draus sich  zu belehren” (Ao Deus Altíssimo tudo seja para honrar, e, ao próximo, para instruir).

Vimos “biopics” (filmes biográficos) a respeito de Beethoven, Mozart,   Chopin, Schubert, Liszt, Paganini, Wagner e Tschaikowsky, romanceados, mas nenhum retrata a vida pessoal deles com tamanha veracidade, ao mesmo tempo em que  reproduz trechos de suas obras com o necessário senso de oportunidade. Neste DVD,  a música de Bach é o fio condutor de sua biografia; narra alguns fatos de sua vida.

Primeira parte – “O desafio”

Bach, como organista e servo (1708-1717) do duque da Saxônia, em  Weimar compôs muitas obras para órgão. Apresentou-se para competir em Dresden  com o organista francês Louis Marchand; é um episódio particularmente instigante e  pitoresco; voltando a Weimar, foi preso por três semanas, por causa  do capricho do  patrão e do contrato draconiano a que estava obrigado.

Segunda parte – “Tu estás comigo”

Como regente orquestral e amigo (1717-1723) do príncipe Leopold, em  Köthen, teve anos de felicidade, mas sua primeira esposa Anna Barbara subitamente  morreu e a mulher do príncipe, afastando os dois amigos, preferia cavalos e cães de  raça. No meio da bonança, o sentimento religioso de Bach foi posto à prova.

Terceira parte – “Tempestade”

Desprestigiado em Köthen, Bach foi procurar emprego em Leipzig. Como diretor musical (1723-1750) das quatro igrejas luteranas da cidade, construiu a  sua monumental obra coral. Seu salário reduzido obrigou-o, para ter uma sobrevivência condigna, a tocar em nascimentos, aniversários, casamentos, bodas e enterros. Mas  teve o incansável apoio de sua segunda esposa, Anna Magdalena, para cuidar e educar seus muitos filhos.

Quarta parte – “A ordem das estrelas”

As grandes obras instrumentais (“Concertos de Brandemburgo”, “A  Arte da Fuga”, “Oferenda Musical”) acompanharam os sucessos das carreiras artísticas de seus filhos e os problemas característicos de seu envelhecimento. É o período  mais dramático da vida de Johann Sebastian e Anna Magdalena.

Os minutos da exibição do filme passam prazerosamente, sem prejudicar o rigor histórico, porque os cenários naturais são maravilhosos, os ambientes palacianos suntuosos, a reconstituição de época é bem cuidada, a execução musical (Mat-  thias Eisenberg, Hans Otto, Max Pommer,“Berliner Sinfonie Orchester”, “Leipziger  Neues Bachisches Collegium Musicum”, “Leipziger Universitätschor”) é excelente e as  interpretações do elenco, composto por atores alemães e húngaros, são convincentes,  particularmente a de Ulrich Thein (1930-1995), no papel de Johann Sebastian, e a  de Franziska Troegner, no de Anna Magdalena. Além de ator, Ulrich Thein era pianista, o que conferiu ao seu desempenho maior credibilidade. Possivelmente, os protagonistas sonharam com o dia em que este filme seria exibido fora da Alemanha.

Lothar Bellag (1930-2001) elaborou o roteiro, talvez baseado na biografia de Bach escrita em 1966 por Karl Geiringer.

O filme, competentemente dirigido por Bellag, nos ajuda a apreciar  o gênio de Bach, que realizou a verdadeira poesia musical em honra do Deus Altíssimo.

(Publicado em “O Jornal Batista”, de 03 de março de 2013, p.3)

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