No. 812 – “Eclésia” e Banda em concerto erudito – 02 ago 15

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No. 812 – “Eclésia” e Banda em concerto erudito – 02 ago 15

Doc.JB MÚSICA – No. 812

Rolando de Nassau

“ECLÉSIA” E BANDA EM CONCERTO ERUDITO

(Dedicado ao leitor Luiz Alencar da Silva, de Brasília, DF)

À noite da quinta-feira, 07 de maio de 2015, o Coral “Eclésia” e a Banda Sinfônica do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro realizaram um excelente concerto erudito.

Na série, intitulada “Música de Primeira” e inaugurada em 2009, este foi o 63º. concerto, para comemorar o centenário (1915-2015) do Coro da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro.

Tivemos o privilégio de conhecer os regentes Daniel Cordes, Egydio Gióia, Arthur Lakschevitz, Regifredo Sarno, Guilherme Loureiro, Levino Alcântara, Natanael Mesquita e Marília Soren.

Em 21 de março de 1967 passou a denominar-se “Coral Eclésia” e a regência foi assumida pela maestrina Anna Campello Egger.

A Banda Sinfônica foi criada em 30 de outubro de 1896; atualmente é regida pelo maestro capitão Aurimar Bento Donato.

A apresentação desses grupos coube ao ministro de música da PIB-RJ, maestro Eduardo Transcoveski Gonçalves.

Na primeira parte (30 minutos), a Banda Sinfônica exibiu seu profissionalismo e sensibilidade. “Candide” (abertura), de Leonard Bernstein (1918-1990) Os maiores sucessos de Bernstein foram: no teatro musicado “West Side Story” e “Candide”, e na música de concerto as sinfonias “Jeremias” e “Kaddish”. Na década de 90 assistimos a encenação de sua opereta cômica no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A “abertura”, a mais executada, é uma peça alegre e burlesca (ver: OJB, 23 abr 1989). “Suíte”, opus 28, de Gustav Holst (1874-1934) Não conhecíamos essa “suíte”, composta em 1909. Holst tocava trombone numa orquestra escocesa e sofreu forte influência da música folclórica. A obra começa por uma “chaconne”(dança do período barroco), passa por um “intermezzo”(interlúdio entre os atos de uma ópera) e termina com uma “marcha”(combinação de melodias). “Lo Schiavo” (“Alvorada”), de Carlos Gomes (1836-1896) Nessa ópera, estreada em 1889, alusiva à abolição da escravatura, Carlos Gomes demonstrou sua aptidão para a técnica europeia de composição sinfônica, sem desprezar o instrumental percussivo característico da música de índole brasileira. A “Alvorada”, como prelúdio para o 4º. Ato, composto em Milão (Itália), acaba expondo a intensa cor local, vista pelo compositor pouco depois de ter chegado ao Brasil. (ver: OJB, 20 abr 86). Um bombeiro-músico tocou com muita propriedade o seu trompete.

Depois de um intervalo (15 minutos), na 2ª. parte durante 30 minutos coro e solistas demonstraram que estão se esforçando para obter seu estilo. “A Criação” (recitativo com coro, “Terra e Céu”, “Im Anfange schuf Gott Himmel und Erde”), de Josef Haydn (1732-1809)

O tenor Gilberto Silva e o coro descrevem “o princípio”; à voz do solista, ligeiramente suspensa, solene por causa do silêncio do ambiente universal, junta-se a proclamação do coro, diante do brusco surgimento da luz (Gênesis 1: 1-3) (OJB, 13 mar 94). “Missa de São Nicolau” (Gloria), de J.Haydn (1732-1809) Uma vez mais, Haydn escreveu uma missa muito diferente de todas as precedentes. Composta rapidamente em 1772, foi executada na Áustria à noite de 06 de dezembro, em homenagem ao príncipe Nicolau Esterházy. O “Gloria”, interpretado com coro pela soprano Lídia Santana, é  envolvido numa atmosfera otimista. Neste trecho, começamos a sentir a falta de um órgão-de-tubos. Em 1980, quando ouvimos o órgão tocado em Oxford por Christopher Hogwood, acompanhando a execução desta missa, sonhamos com o da PIB-RJ, que só chegaria em 1993. “São Paulo” (“Dou graças a Ti, Senhor” – “Ich danke dir, Herr”), de Felix Mendelssohn (1809-1847)

Este oratório, composto em 1836, foi um marco na história da música coral alemã por restaurar a dignidade dessa forma musical. Eficientemente executada pelo barítono Ezequiel Decotelli, a ária foi completada pelo coro no trecho “O Senhor limpará toda a lágrima” – “Der Herr wird die Tränen von allen Angesichtern abwischen”. “Elias”  (“Então, a Tua luz romperá” – “Alsdann wird euer Licht hervorbrechen”), de Felix Mendelssohn (1809-1847)

Composto em 1846, este poderoso coro, quase operístico, no estilo handeliano, finaliza o oratório (ver: OJB, 23 out 1977 e 08 mar 87). “Requiem” (“Os santos louvam”), de Wolfgang-Ama- deus Mozart (1756-1791)

No trecho escolhido, o “Eclésia” deu uma notável interpretação do clima dramático que cerca esta obra de Mozart; na verdade, somente no “Introitus” e no “Kyrie” a autoria é totalmente dele; as demais partes foram compostas por seu discípulo Franz Süss- mayr (ver: OJB, 14 nov 1957 e 17 set 59). “Judas Macabeus” (“A Deus cantai”- “Sing unto God”) de Georg Friedrich Haendel (1685-1759)

Em 16 de julho de 1959, pela primeira vez, ouvimos este oratório que celebra a vitória inglesa, em abril de 1746, sobre os escoceses que lutavam pela independência da Escócia. Haendel começou a composição quando certificou-se da vitória. Um judeu é apresentado como herói; com esta atitude simpática, Haendel atraiu quase todos os judeus de Londres para um teatro em Covent Garden (ver: Christopher Hogwood, Handel, p.208. London: Thames and Hudson, 1988). Depois de uma marcha, o coro executa “A Deus cantai” (“Sing unto God”).

Na 3ª. parte (15 minutos) coro e banda executaram duas das mais importantes e conhecidas obras da música sacra erudita.  Cantata BWV-147 (“És Jesus minha alegria” – “Jesus bleibet meine Freude”), de Johann Sebastian Bach (1685-1750)

O trecho coral pertence à cantata “Coração e boca, atos e vida” (“Herz und Mund und Tat und Leben”). Os recitativos são baseados em Isaías 11: 1-5 e Lucas 1: 39-56. Finalizando a cantata, estreada em Leipzig em 02 de julho de 1723, temos o coral cuja melodia é equivocadamente conhecida pelas palavras “Jesus, alegria dos homens”. O “ritornello” (breve passagem recorrente) assegurou a celebridade da obra; é uma das melodias mais populares de toda a música erudita (ver: Alfred Dürr, As cantatas de Bach, pp. 979-987. Bau- ru, SP: Edusc, 2015).  “Messias” (“Aleluia) Já escrevemos 13 artigos sobre Haendel e este oratório; o mais recente foi publicado na edição de 03 de maio de 2015.

Parabenizamos Anna Campello Egger e seus liderados por seu belo exemplo de idealismo, tenacidade e entusiasmo. Brasília, DF, em 09 de maio de 2015.

  

2018-02-24T15:30:13+00:00 By |Recitais e concertos|