Doc.JB – No.837 MÚSICA
Rolando de Nassau
A música na reinauguração do Templo Memorial
(Dedicado à leitora Ruth Figueira de Almeida, de Brasília, DF)
Durante quatro anos, os memorianos não puderam cultuar a Deus no Templo, onde era prestigiada a Adoração. Para nossa alegria, foi reinaugurado em 23 de julho, coincidentemente com o 57º. aniversário da Igreja.
A arquitetura sonora de Antonio Henrique Lino Melo e Silva não correspondeu à ambição da visão arquitetônica de Joran Corrêa Costa, nem à inflamada oratória sacra de Norton Riker Lages, que faziam o Templo Memorial rebrilhar de galas novas: consistiu dos hinos congregacionais de praxe, de uma equivocada escolha de Saint-Saëns, de uma pouco expressiva interpretação dos solistas na peça de Haydn e de uma míope execução de Haendel.
Antes do culto solene, foi realizado breve momento cívico, sendo cantados os hinos nacional e “Minha Pátria para Cristo” (CC-439), de William Edwin Entzminger (1859-1930), com acompanhamento pela Banda de Música do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal.
As palavras de Entzminger (“Quero, pois, com alegria, ver feliz a mãe gentil, por vencer Seu evangelho esta terra do Brasil”) poderiam ser cantadas por Maxey Jarman, que doou 300 mil dólares para ser construído o Templo Memorial.
Para inaugurar o santuário do novo Templo, foi executada a obra coral “Dai ao Senhor louvor” (“Praise ye the Lord”) de Camille Saint-Säens (1835-1921), composta em 1906, voltando de uma turnê pelos EUA, sobre o Salmo 150. Isto nos obriga a escrever a respeito de sua música religiosa erudita, apesar de suas renovadas profissões de ateísmo (ver: Paul Huot-Pleuroux, Histoire de la Musique Religieuse, pp. 315-316. Paris: Presses Universitaires de France, 1957).
Para este crítico e historiador, essa obra “não chega a tocar a alma”, porque o compositor “não percebe todo o senti- do espiritual do texto e se adapta mal à função litúrgica”.
Após a oração consagratória pelo pastor emérito Norton Riker Lages, a congregação entoou o hino “Dia festivo” (CC- 411), de Henrique Rodolfo Penno (1895-1974); letra escrita em 1918 para a solenidade de organização da Igreja Batista do Méier, no Rio de Janeiro (DF), sobre melodia profana da coletânea alemã “Sing Voegelein” (Canto do passarinho).
Na sequência, foi cantado o hino “Temos por lutas passado” (HCC-502), de Manuel Avelino de Souza (1886-1962), escrito em 1917 no início da construção do segundo templo da PIB em Niterói (RJ).
De certa maneira, apropriada a escolha do hino “Como agradecer a Jesus?” (HCC-422), de Andrae Crouch (1943- 2015), porque, para contribuir, alguns sacrificialmente, para o “Fundo de Recuperação do Templo”, o hino motivou-os a “expressar a eterna gratidão … pelas bênçãos sem fim”.
Precedendo a mensagem do pastor Norton Riker Lages, foi executada, por piano, órgão e coro, a parte coral “Os céus declaram a glória de Deus” (“Die Himmel erzählen die Ehre Gottes”) do oratório “A Criação” (Die Schöpfung), de Franz Joseph Haydn (1732-1809). Durante muito tempo nos países anglo-saxões foi a página coral de Haydn mais executada.
As palavras “no mundo inteiro se divulga a Palavra” são tratadas por três solistas vocais, acompanhados pela flauta; as palavras “o firmamento mostra a obra de Suas mãos” devem construir uma apoteose. Nem sempre a obra religiosa de Haydn está em harmonia com a liturgia católica. Michel Brenet sugeriu que para o imperador austríaco (1741-1790), José II, importava que fosse composta conforme o gosto dele.
Depois da mensagem pastoral, focalizando a Igreja de Cristo, a congregação cantou o hino “O estandarte” (CC-456), de Robert E. Neighbour (1872-1945), jovem missionário americano então na Bahia (1893-1895).
Por fim, a parte coral “Digno é o Cordeiro” (“Worthy is the Lamb”), que termina o oratório “Messias” (“Messiah”, HWV- 56), de Georg Friedrich Haendel (1685-1759); é um longo coro, acompanhado por trompetes, e concluído por um “Amém”, que quase provocou uma salva de palmas; esta explosão de alegria deve ser evitada no ambiente solene do novo Templo.
A reinauguração trouxe-nos a esperança de que os novos equipamentos farão melhorias na qualidade do som e da imagem, no santuário e na transmissão dos cultos pela internet, e que a “gaiola” (alguns chamam de “aquário”, mas peixe não faz barulho) preparada para o baterista atenuará os ruídos dentro do santuário. Esqueceram o decibelímetro (OJB,06 nov 16).
A mudança em 2013, do Templo para o Auditório, teve efeitos negativos, pois os cultos passaram a dar maior importância ao LOUVOR. O Auditório foi transformado num mostruário da música “gospel” e numa hospedaria de solistas e conjuntos vocais. Ganharam espaço os que percorrem as igrejas na faina irreverente de vender seus discos, de forma direta e imediata, que é a mais lucrativa.
As igrejas tradicionais realizam cultos de adoração; as modernas, cultos de louvor. Adorador é participante da ADORAÇÃO; cantador, do LOUVOR. Ninguém é adorador, só porque assiste o culto; este é meramente um cultuante. No culto de adoração, os adoradores executam música-de-culto; no culto de louvor, os cantadores cantam música principalmente para seu entretenimento. A música-de-culto é funcional: prepara a mente e o ouvido do adorador para a ADORAÇÃO. A música-de-entretenimento é ornamental: estimula o senso visual para os gestos e as fisionomias dos executantes que se esforçam para o LOUVOR (Ver: OJB, 06 jan, 24 fev e 17 mar 97). Deus se agrada que o ser humano O adore. O cantador se agrada com o seu canto. No culto, Deus não quer receber festas e solenidades, holocaustos e ofertas, cânticos estrepitosos e melodias sensuais, iniquidade e incontinência. Os adoradores devem fazer tudo para a glória de Deus, por meio de Jesus. Que no novo Templo, a nova Igreja cultive a música tradicional de culto! Rolando de Nassau.
Brasília, DF, em 24 de julho de 2017.