Doc.JB-699
Rolando de Nassáu
(Dedicado à leitora Ycléa Cervino, de Recife, PE)
Em 1857, um grupo de homens-de-negócios, preocupado com o bem-estar moral e espiritual dos EUA, agendou uma reunião de oração, ao meio-dia, na rua Fulton, em New York; esse grupo chegou a reunir 10 mil homens; em um mês, as igrejas nova-iorquinas receberam 50 mil novos membros; dentro de dois anos, houve um milhão de conversões! Esse grupo de oração precedeu as campanhas de Moody realizadas naquela cidade a partir de 1876.
William Franklin Graham Junior (1919- ), mais conhecido como Billy Graham, foi consagrado ao ministério pastoral (1940), formou-se em Antropologia (1940-1943) e tornou-se um dos principais oradores da “Mocidade para Cristo” (1945-1948) e personalidade pública (1950) ao organizar uma associação evangelística para promover concentrações, produzir programas radiofônicos e televisivos, publicar a revista “Decision” e realizar socorro humanitário. Em 1960, BG foi o pregador por ocasião da concentração evangelística promovida pela Aliança Batista Mundial no Estádio do Maracanã, quando falou para 180 mil pessoas.
A partir de 1966, BG participou de congressos e conferências sobre Evangelismo (Berlim, 1966; Lausanne, 1974; Amsterdam, 1986 e 2000). Em 1980, inaugurou o BGC para estimular a evangelização em escala mundial; em 1987, um centro de treinamento de obreiros e leigos para o trabalho evangelístico. Em 2001, Franklin, o filho mais velho, assumiu a presidência da BGEA, mas Billy continuou a realizar suas cruzadas; em junho de 2005 foi a 417ª. !
Talvez inspirado pelas campanhas de Moody, em 1956 BG começou a preparar-se para despertar espiritualmente a cidade: alugou, por seis semanas, o Madison Square Garden, com 19 mil assentos. Antes mesmo de iniciada a cruzada, recebeu censuras por parte de pastores evangélicos e jornalistas seculares. Nessa época, estimava-se que 60% da população não pertencia a nenhum grupo religioso. A Cruzada durou três meses e meio (15 de maio/1 de setembro de 1957), à qual compareceram cerca de 2 milhões de pessoas, tendo ocorrido quase 55 mil decisões, o que representou menos de 3% da assistência total; foram 114 reuniões, no MSG e em outras localidades; na última reunião, a mais importante na experiência de BG, antes do Maracanã, foi registrado um “record”: 150 mil assistentes. Certa vez, BG declarou: “Há evangelismo quando o Evangelho é para todos”.
O evangelista Percy Crawford, amigo de BG, usava a televisão; talvez tenha sugerido à Comissão esse recurso; mais gente teria o Evangelho; nos quatro sábados de junho, diretamente do MSG, a rede de televisão “ABC” transmitiu, “costa a costa”, as concentrações noturnas da Cruzada. Logo em seguida às transmissões, vistas a cada semana por 10 milhões de pessoas, os telespectadores telefonavam para o escritório da Cruzada solicitando aconselhamento espiritual.
O primeiro sermão de BG foi “Christ and this crisis” (Cristo e a crise). Os sermões começavam com tema de interesse popular, ofereciam uma perspectiva bíblica e ligavam o tema à necessidade individual; terminavam convidando ao arrependimento e à consagração.
A música sempre era item importante na programação: um coro de 1.500 cantores e o barítono George Beverly Shea, regidos por Cliff Barrows e acompanhados pelo pianista Tedd Smith e o organista Paul Mickelson. Shea era apresentado antes da pregação de BG; foi durante a Cruzada que sua interpretacão do hino “How Great Thou Art” (“Grandioso és Tu!”, no. 52 do HCC) ficou conhecida por meio da televisão; ele cantou este hino 108 vezes! Cantora famosa na “Broadway”, em 1957 Ethel Waters(1900-1976) deixou a carreira artística para cantar nas Cruzadas. Ethel cantou “His eye is on the sparrow”, hino evangelístico do século 19 adotado pelos negros norte-americanos. As apresentações musicais na Cruzada de New York pautaram-se pela hinodia de finalidade evangelística e caracterizaram-se pela austeridade e competência dos cantores e músicos. Em outras Cruzadas, foram intensivamente cantados os hinos nos. 15, “A Deus demos glória, com grande fervor”, 39, “Noventa e nove ovelhas vão”, e 375, “Canta, minha alma! Canta ao Senhor!” (CC).
Billy Graham pregou para mais de 200 milhões de pessoas em todos os continentes, das quais três milhões se decidiram (1,5% do total). Por trás de BG, milhares de pessoas estavam contribuindo financeiramente, com sacrifício de seus interesses ajudando nas frentes de trabalho e, principalmente, com fervor orando; sem saber, estavam repetindo a demonstração de fé daquele grupo de oração da rua Fulton. BG foi o principal reavivalista religioso na segunda metade do século 20; por isso, apareceu na capa da revista “TIME” (1954, 1993 e 1996). O conceituado crítico literário Harold Bloom escreveu que BG “transcedendo doutrinas e denominações, serviu como conselheiro espiritual da nação americana”, entre os 100 heróis do século 20 (“TIME”, 14 jun 99).
Numa época em que a defesa de princípios religiosos é menos acirrada, é um exagero denominar “cruzadas” as concentrações de alguns dias, que exigem pouco de seus assistentes e podem oferecer muito em matéria de entretenimento.
(Publicado em “O Jornal Batista”, 01 jan 2006, p. 4).