Música – Nº. 664
Rolando de Nassáu
Três irmãs espanholas, conhecidas no meio artístico como “Ketchup”, graças à globalização, com a canção popular “Asereje” desde meados de 2002 estão atordoando os jovens e adolescentes do mundo.
A letra original espanhola foi traduzida para o italiano, o inglês e o português, transformando-se num fenômeno discográfico e social; conta a estória de um jovem, Diego, que pede numa discoteca que toquem para ele a música da qual não se recorda, nem o título, nem as palavras; então, a letra é inventada, com um novo ritmo, o “ragatanga”; à letra foi acrescentado um refrão, que, segundo informações, num dialeto africano da Eritréia, é cantado e dançado ao som de tambores, enquanto forças malignas são invocadas; é um refrão incompreensível, ainda não traduzido. Pilar Muñoz, uma das “Ketchup”, declarou que o refrão não tem significado, mas foi inspirado na música “Rapper’s delight”, da “Sugar Hill Gang”. Uma adolescente disse ter gostado do ritmo, mas que a letra deveria pertencer a um “ritual macabro” …
A revista italiana “Famiglia Cristiana” (nº.35, de 0l set 2002) tratou o assunto com ingênua simpatia: inventada pelo trio, a coreografia é simples e divertida, doce e picante …
No Brasil, o “Ketchup” está sendo imitado pelo “Rouge”, no programa televisivo “Popstars” (SBT). Quem assistir ao clipe na TV, além da sensualidade das jovens dançarinas notará imagens satânicas; é o que denuncia um visitante de nossa página na Internet; para ele, o “ragatanga” é uma espécie de “mantra” que cultua as fôrças satânicas.
Em outubro de 2002, professores católicos e protestantes de Honduras supunham que a canção tem conteúdo satânico: “Asereje” equivale a um convite “a ser hereje”; “Diego” é o diabo; a frase “Diego tiene chuleria” significa “Lúcifer tem charme”.
Temos diante de nós as versões espanhola (“Mira lo que se avecina”), italiana (“Guardalo mentre si avvicina”), inglesa (“Friday night it’s party time”) e portuguesa (“Olha lá, quem vem virando a esquina”). Façamos um exame comparativo das sete frases mais significativas: 1) “Mira lo que se avecina” – “Guardalo mentre si avvicina” – “Friday night it’s party time” – “Olha lá, quem vem virando a esquina” (refere-se à aproximação de alguém para um encontro na virada dos tempos); 2) “con la luna en las pupilas” – “La luna riflessa negli occhi” – “with the magic in his eyes” – “Com a Lua em seus olhos” (“Lúcifer” é portador de luz; “Lua” é divindade fabulosa; tem um lado escuro, oculto, misterioso); 3) “Y donde mas no cabe un alma” – “Dove non c’è anima viva” (onde não há alma viva); 4) “Poseído por el ritmo ragatanga” – “Posseduto dal ritmo del ragatanga” (dominado moralmente pelo ritmo); 5) “toca el himno de las doce” – “Suona il ritmo di mezzanotte” – “on the spot always around twelve” (o hino da meia-noite; o vampiro aparece na hora decisiva); 6) “No es cosa de brujeria” – “Non é stregoneria” – “Many think is brujeria, how he comes and disappears” – “Não é por acaso que encontro todo dia por onde vou caminhando” (Diego sempre surpreende o caminhante); 7) “Diego tiene chuleria” – “Diego è insolente, è questo Che lo diverte” (Diego é atrevido e zombeteiro).
Deixamos aos teólogos a interpretação profunda da canção. Parece que a mídia globalizada pretende alcançar e influenciar as crianças, os adolescentes e os jovens do mundo. Talvez muitos dos que freqüentam nossas igrejas estejam cantando “Asereje” e dançando “ragatanga”.
No meio evangélico, o terreno já está preparado para receber esse tipo de semente musical: os estilos, ritmos e instrumentos da música popular, a coreografia e a dança, já penetraram nos templos e nos lares dos crentes.
Na última década do século 20, muitos adotaram a fórmula: “nothing is sacred, especially music and religion” (nada é sagrado, especialmente quando se trata de música e de religião …). Muitas igrejas transformaram o culto num espetáculo.
Receamos que o “som da moda” invada nossos arraiais, pois o extraordinário consumo de música popular pela juventude torna mais fácil aceitar letras como “Asereje” e ritmos como “ragatanga”.
PS – Uma colaboradora da revista de música batista “Louvor” (Ano 26, Vol.1, No.94, 1T03, pp.19-21) não quis discutir as questões éticas e teológicas envolvidas em seu artigo “O marketing na adoração”. O culto é a reunião para adoração. Será necessário usar técnicas de marketing para adorar a Deus? Não se deve confundir mercado e comunidade cristã.
(Publicado em “O Jornal Batista”, 02 fev 2003, p. 4).